Hoje fui ao cinema. Pela primeira vez em mais de três anos (ou mais ainda, talvez), fui ao cinema sem ti. A ideia era distrair-me; parar de pensar, aliviar a cabeça enchendo-a de fantasia e histórias de finais felizes. Tentar, por momentos, descontrair. Gosto de cinema. Gosto da envolvência do som, da imagem, da cor; gosto dos diálogos que se constroem, dos olhares que se cruzam, dos lábios que se mordem, das palavras que não se dizem mas que o grande ecrã põe a descoberto. Hoje, pela primeira vez desde que me lembro (e não importa o que havia antes, importa o universo de que me lembro), não estavas ao meu lado no cinema. Quando me sentei, senti a tua falta. Antes dos trailers, durante os anúncios com as suas músicas e palavras dengosamente escolhidas, senti a tua falta. Quando começaram os trailers, quando os vi, quando quis escolher o próximo filme, senti a tua falta. Quando as luzes se apagaram senti falta de te dar a mão. Quando o filme começou, já não me apetecia vê-lo, sentia a tua falta. No intervalo, senti falta de que te chegasses para a frente e perguntasses "Queres pipocas?" como quem acrescenta "Por favoor *.*" com um olhar e um sorriso só teus, de mais ninguém. Eu vi o filme, sim. Sei falar sobre ele. Sei dizer se gostei, se não gostei, porquê, porque não. Mas não houve um único momento em que ver o filme e deixar de sentir a tua falta se anulassem mutuamente. O filme não me comoveu o suficiente para chorar, mas chorei; e sei, sei eu, sabes tu, sabe talvez toda a gente, que eram lágrimas de sentir a tua falta. Talvez não volte ao cinema. Não nesta "parte-de-vida", pelo menos. Porque, descobri hoje, há poucas coisas mais difíceis que ir ao cinema e ter uma Pepsi só para mim; há poucas coisas que quisesse mais do que ter de dar um primeiro golinho rápido na Pepsi porque, da próxima vez que me apetecesse, poderia já não haver. Hoje, teria dado tudo para que me apetecesse Pepsi e já não houvesse! Hoje, ficou quase toda. Ficou a tua parte.
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