Não vale a pena pedirem-me que explique, que eu não saberei como; a partir daqui, as considerações são as que entenderem. Hoje, de alguma forma, foi como se estivéssemos a conhecer-nos de novo; como se nunca nos tivéssemos visto ou encontrado e estivéssemos a descobrir-nos pela primeira vez. Eu disse que não saberia explicar, não vale a pena haver perguntas. Foi como se estivéssemos numa espécie de quebra-gelo. Quem és tu, de que é que gostas, o que é que queres e/ou esperas da vida. Não, as perguntas não foram feitas, mas parecia. Piadas e brincadeiras de um quebra-gelo inicial. E lá estavas tu, e lá estava o sorriso, e lá estava o olhar, e lá estavam os jeitos e trejeitos. Respondendo ao talvez de ontem, o amor não tem nada de terreno, de terreste; o amor é etéreo, ponto final. Se esta fosse outra vida, se eu fosse outra, se tu não fosses também a mesma pessoa, se tivéssemos transposto a realidade para uma outra dimensão, cá estaria eu (um outro eu) - de novo - a apaixonar-me por ti. E isto irrita-me por várias razões. Assim à superfície encontro três. A primeira e menos óbvia mas mais irritável, prende-se com o facto de não conseguir deixar de desejar, mais que tudo, que esta tivesse sido também uma descoberta tua; no fundo, que hoje tivesses também descoberto que podes sempre voltar a apaixonar-te por mim; como quase morro de certeza de que isto não aconteceu, fico irritada. A segunda, mais óbvia e menos irritável, prende-se com o facto de não ser suposto por-me para aqui, para aí, para ali, a (re)descobrir os teus encantos e as razões pelas quais me apaixonei e voltaria sempre a apaixonar por ti, mas o contrário; o suposto nesta fase sem fim da vida - da minha -, seria procurar motivos, razões, fortes justificações para me desapaixonar de ti. Desde quando é que no amor há "o suposto"? A terceira, óbvia e desesperante, prende-se tão só com a impossibilidade que representam simultaneamente o seres e o deixares de ser. Seja hoje, amanhã, daqui por uma semana, daqui por um mês, no próximo ano ou no próximo século, sempre que te (re)descobrir vou (re)apaixonar-me. E isto podia ser a coisa mais bonita do mundo, e até é, de certa forma; mas agora, no momento presente é, sobretudo, um poço infinito onde, por mais que procure, não encontro a cama elástica. E isto irrita-me por várias razões. Já agora: a palavra "irrita-me" poderá estar extremamente mal aplicada, mas como não faço a mínima ideia do nome que hei-de dar ao que isto me faz sentir, escolhi "irrita-me". Porque sim. Mais uma coisa: a irritação, ou o quer que isto seja, é comigo. E não vale a pena pedirem-me que explique, que eu não saberei como; dito isto, as considerações são as que entenderem.
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