A saudade define a certeza.

A saudade define a certeza.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

É a frase que está mal escrita.

Não, não consigo fazer isto. Não consigo não querer saber, não consigo não me importar, não consigo não sentir, não consigo "jogar para trás das costas" e fingir. Não, não consigo. Posso dizer que sim, mas o sim é não; o sim é sempre não. Sinto a tua falta mais do que sei explicar. Sinto a tua falta mais do que sei entender. À luz do primeiro desespero, achei que não sabia viver sem ti, que não conseguiria viver sem ti, que precisava de ti para respirar; com o tempo, porque não claudiquei, tenho vindo a perceber que sei, consigo, posso viver sem ti. O sol continua a levantar-se e a pôr-se, como todos os dias, como todas as noites. E eu continuo viva. Portanto sei viver sem ti, consigo viver sem ti e não preciso de ti para respirar. Não sou nem me sinto dependente de ti. Não é por isso que sinto a tua falta. Não sinto falta de que me preenchas o tempo; até gosto de tempo livre, de tempo só para mim. Não é pelos espaços em branco e em silêncio. Não é da rotina que sinto falta. Não é o hábito que me mata. Já nem sequer são os planos, embora sejam mais os planos que qualquer coisa das referidas antes. Eu posso viver sem ti. Eu posso levantar-me de manhã e cumprir as minhas obrigações, posso fazer até mais que cumprir as minhas obrigações; posso sentar-me num banco de jardim e ter um livro na mão, posso sentar-me numa esplanada e beber uma cerveja enquanto fumo um cigarro, posso descobrir sítios novos, posso fazer novas amizades, posso deitar-me à noite com a certeza de ter tido um bom dia, de ter tido um dia que valeu a pena. Eu posso viver sem ti. É a frase que está mal escrita. O problema reside na frase mal dita, mal escrita. "Eu não posso viver sem ti" é uma falácia, não é verdade. A verdade é outra, de outra cor. A verdade é: eu não quero viver sem ti! Eu não quero viver sem ti, mesmo que tenha de viver contigo sem ti. Não quero esquecer-te. Não quero apagar nada. Não quero deixar de pensar em ti. Não quero deixar de ter saudades, não quero deixar de trazer-te dentro de mim a cada momento. Era a frase que estava mal escrita. Esta é a minha escolha. Tu és a minha escolha. Eu posso, mas não quero. E isso não muda nada em relação ao estado físico, concreto e objectivo das coisas. As coisas são o que são e já não existe um nós físico, real. Mas existe um nós dentro de mim. Um nós infinito. Agora que a frase está correcta, posso descansar um bocadinho. 

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