Quando as relações terminam; relações intensas em que pelo menos uma das partes se mantém tão ligada à outra parte como sempre esteve, há que haver um terminus real, palpável. Qualquer coisa que realmente distinga o antes do depois. E não basta o óbvio. Para quem ama, não basta o óbvio. Não basta dizer acabou e, como acabou, então está bem, da próxima vez que nos encontrarmos vai ser como se nunca nos tivéssemos pertencido. Não é assim que funciona. Para quem ama, não basta o óbvio. De todas as vezes em que nos encontrarmos, vou sentir-me tão próxima ou ligada a ti como em qualquer dia da nossa vida em comum. De todas as vezes em que nos encontrarmos, qualquer palavra que digas, por mais inocente que seja, vai atingir-me e, muitas delas, vão agredir-me. De todas as vezes em que nos encontrarmos, vai doer-me de morte que as nossas mãos não se encontrem nalguma altura, que não me deixes à porta de casa, que não nos beijemos na hora do até amanhã, que o até amanhã possa ser ou não um até amanhã. De todas as vezes em que nos encontrarmos, há-de haver sempre um momento em que deixei de te ver, de te ouvir, e já só existo no passado; nos teus braços, nos teus lábios. De todas as vezes em que nos encontrarmos, vou questionar-me: o que é que sentes, o que é que pensas, custa-te, estás bem, não sentes nada... De todas as vezes em que nos encontrarmos, vou estar desenquadrada do espírito e vou ser uma péssima companhia; para ti, para mim, para todos. Talvez um dia possa fazê-lo sem ter de representar um papel cujas falas esqueci. Talvez um dia querer saber de ti seja compatível com poder saber de ti sem me desfazer. Talvez um dia desejar que sejas feliz possa ser compatível com presenciar e partilhar a tua felicidade. Talvez um dia desejar-te o melhor possa ser compatível com sorrir ao ouvir-te falar do melhor. Talvez um dia querer-te bem possa ser compatível com estar sentada ao teu lado. Não agora. Agora é preciso um terminus real, palpável. Não fizeste nada errado. É só que, para quem ama, não basta o óbvio. E eu não consigo encontrar o caminho de volta ao tempo em que não te amava, não consigo virar as costas ao amor que sinto. Por isso, para mim, que amo, não basta o óbvio, é preciso o palpável.
PS.: “The scariest thing about distance is that you don’t know whether they’ll miss you or forget you.” The Notebook.
PS.: “The scariest thing about distance is that you don’t know whether they’ll miss you or forget you.” The Notebook.
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