Podiam ser mil coisas, mas é só esta.

 Mesmo que um dia doa menos, não vai passar. É que aquilo que sinto por ti podiam ser mil outras coisas, mas não são. Aquilo que sinto por ti é uma coisa só; uma que abarca todas, que abarca o meu mundo inteiro e todas as partes do teu mundo que possa abarcar. Aquilo que sinto quando te vejo podiam ser mil coisas diferentes, mas é só uma. Aquilo que sinto quando te toco podiam ser tantas coisas e é só esta. Quando falas, os teus lábios. Quando brincas, as expressões. Quando me abraças, o teu cheiro. Quero agarrar-te, quero puxar-te para mim, quero abraçar-te, ter-te nos meus braços e não te largar mais. Quero o que não posso ter, o que não podes dar-me, o que não posso dar-te. Não quero querer. Não quero. Quero estar ao teu lado e apoiar-te, mas não quero querer-te, não quero desejar-te. Podiam ser milhares de coisas, mas não são. É esta que tem todas. Não posso amar-te sem te querer. Não posso amar-te sem te desejar. Quando agora penso que os meus lábios nunca mais hão-de encontrar os teus, os meus olhos respondem e há uma bomba em mim que explode. Quando agora penso que um abraço - que ainda podemos dar - jamais se seguirá dum beijo outra vez, os meus olhos respondem e o tempo pára. Porque, quando falas, os teus lábios. Quando sorris, os teus lábios. Quando choras, os teus lábios.   Queria, mais que tudo, viajar num beijo teu, nosso; perder-me dentro dele, senti-lo dentro de mim, respirá-lo. Tenho tantas saudades de te beijar! Não sei sequer dizer quando, qual foi o último beijo. Gostava de ter tido um último beijo sabendo que o era; de tê-lo bebido, de tê-lo para guardar como guardo o primeiro. Quando agora penso que já só podemos ser corpos vestidos, o ar torna-se pesado e este peso é infinito. Quando agora penso nas manhãs de Outubro/Novembro de há 4 anos atrás, o coração pára e eu sei, eu sei(!), que, quando volta a bater, o ritmo não é o meu, é o de um outro coração. Quando agora penso nas noites frias de Invernos passados, nas noites quentes de Verões passados, o futuro desaparece. Não, não é amizade. E podiam ser mil coisas, mas é só esta.