A saudade define a certeza.

A saudade define a certeza.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim.

Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que não me encontrei. E não me encontrando, não te encontrei. Talvez seja essa a chave mágica que procuro, perder-me de mim; talvez perder-me de mim seja a única forma de perder-me de ti. Talvez desencontrar-me de mim seja a única forma de deixar de te encontrar dentro de mim. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que passaste por mim e mal te vi; não fosse ter ficado o teu cheiro no ar, não te teria visto. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que me perguntei o dia inteiro porque sorria. Porque sorria? Estive feliz? Não. Estive ausente. Ausente de mim, ausente de ti. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que a dor que me assalta todas as noites quando me lembro que não vens para os meus braços, veio atrasada, encontrou-me já deitada. Ela vem, vem sempre, mas hoje chegou mais tarde. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que atrasei a dor. Talvez seja essa a chave mágica de que preciso, fechar-me; fechar-me de mim. Talvez não possa desistir de ti sem antes desistir de mim; porque desistir de mim é desistir desta forma completa de te amar. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que, por breves instantes, me esqueci; não de ti, de mim. Vives em cada gota do meu sangue, em cada poro da minha pele, em cada partícula de ar que inspiro, expiro; não posso esquecer-me de ti sem esquecer-me de mim. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que percebi. É de mim que quero largar-me. E talvez, só talvez, largando-me de mim possa largar-me de ti; talvez, só talvez, não vivas para lá da minha essência; talvez, só talvez, não transcendas o palpável. E talvez, só talvez, este amor não viva para lá de uma total clivagem de mim. Hipoteticamente falando, talvez, só talvez, o amor seja terreno e não etéreo. Se eu acredito? Não. Se tenho hipótese? Também não. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que me larguei de mim. O futuro me dirá se chega.

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