A saudade define a certeza.

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segunda-feira, 21 de abril de 2014

"E dizes-me isso assim, aqui?"

Rio-me agora do medo que tive de me apaixonar por ti. Rio-me agora da resistência. Rio-me dos anos em que neguei, dos anos em que quis outra coisa, dos anos em que esperei até ser capaz de to dizer. Isto é, de to dizer com palavras, porque fui-to dizendo de todas as formas possíveis e imaginárias desde o primeiro dia em que olhei para ti com os olhos de quem conhece uma parte de si. Amor à primeira vista é um cliché e eu não sei se acredito nessa possibilidade. Mas acredito, definitivamente, no clique. No dia em que te perguntei se eras tu, no dia em que te levantaste e me cumprimentaste daquela forma intimista sem nunca antes termos trocado uma palavra, naquele dia a partir do qual fomos fazendo progressivamente, mais ou menos activamente, o jogo do gato e do rato, houve um clique. Se esse clique é o mecanismo que conduz ao amor, talvez tenha de acreditar no cliché de amor à primeira vista. Não sei quando, como ou porque é que me apaixonei por ti, mas tenho a certeza, a certeza absoluta, que começou ali, naquele dia. Entre esse dia e o dia em que, com palavras, te disse pela primeira vez que estava apaixonada por ti, muitos dias, semanas, meses se passaram. Na verdade, mais de dois anos se passaram. Quando, com palavras, te disse pela primeira vez que estava apaixonada por ti, já nos tínhamos beijado, já nos tínhamos abraçado e até o cheiro e os contornos dos nossos corpos já conhecíamos. Sim, dei primeiro o corpo que as palavras. Rio-me agora do medo que tive de me apaixonar por ti, do medo que tive de to dizer. De alguma forma, soube sempre que essas seriam as palavras que me acorrentariam a ti. Lembras-te de como foi? Provavelmente não. Lembras-te da primeira vez que utilizei a palavra "apaixonada"? Provavelmente não. Queria dizer-to e ainda tinha medo. Tínhamos saído em grupo e bebíamos uma bebida nova, afrodisíaca. Uma bebida excelente, da qual gostei imenso. Segura daquilo que dizia, segurei no copo, olhei para ti e disse: "Estou completamente apaixonada!..". Ri-me, fiz um compasso de espera e acrescentei: "Pela bebida." Sorriste daquele jeito só teu e respondeste: "E dizes-me isso assim, aqui?" A mensagem tinha sido enviada e entregue. No dia seguinte enviei-te uma mensagem que dizia: "Sim, é por ti que estou apaixonada. Estou completamente apaixonada por ti." Dois dias depois, com um joelho no chão duma sala de cinema de um filme que não vimos, pedias-me para ser tua. Quando respondi que sim, quando te disse que já era tua, deixaste escapar uma lágrima. Não importa o que nos trouxe até aqui. Já não importa. Importam-me os sorrisos nunca apagados desse tempo, importa-me o joelho no chão e essa lágrima. Importam-me as tardes de beijos entre conversas e de conversas entre beijos. Só deixámos de saber o que dizer agora, depois de gastas as palavras; até aqui, soubemos sempre o que dizer. Passámos horas e horas das nossas vidas a conversar, a partilhar, a conhecer, a descobrir. Importam-me as manhãs de amor que, invariavelmente, terminavam com juras de eternidade e que serão sempre eternas depois do fim. Importam-me as surpresas, as viagens, os desejos. Importam-me as memórias, as boas memórias, as memórias daquilo que vale a pena, daquilo que valeu tão, tão, tão a pena. O passado que costumava ser presente e andar de mão dada com o futuro, largou-lha. Podia dizer-te: "E dizes-me isso assim, aqui?"; mas que outra forma e que outro lugar haveria para sabê-lo, que não assim e aqui? Esta noite, ou outra breve, talvez volte ao mesmo lugar, peça e beba a mesma bebida e conclua que ainda estou completamente apaixonada...pela bebida. Que é como quem diz, por ti. Nessa noite, se te enviar uma mensagem, vou mudar uma palavra. Sem estou, sou. Sou completamente apaixonada por ti.  
   

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