A saudade define a certeza.

A saudade define a certeza.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A vida depois da morte.


É curioso como todas as pessoas já tinham visto que a paixão se desvanecera, que não me olhavas da mesma maneira, que era já tudo menos amor. Esse amor, pelo menos. É curioso como todos, antes de nós, antes de mim,  tinham percebido que o futuro estava apagado, já não existia. Disse-te que não querias assentar, que nunca terias ido viver comigo porque querias voltar para aquilo que era a tua vida antiga. Estava enganada. Em negação. Acho que assentar é ainda o que queres, e que estará para breve; só já não queres e não querias fazê-lo comigo, só já não era comigo que querias partilhar o resto da tua vida. Ou talvez queiras, talvez queiras ainda que faça um bocadinho parte da tua vida: como a amiga com que viveste durante o último ano e meio de relação; sim, foi isso que fui para ti durante esse tempo, não mais. Não o farei. E vou deixar ainda no insondável os motivos pelos quais ficaste em relação. Estou já menos zangada comigo por ter ficado - eu tinha de ficar. Nunca deixei de te amar, nunca deixei de estar apaixonada e de me apaixonar vezes repetidas; por ti, sempre por ti. Em ti havia paixão, sim, mas não por mim. De todas as vezes em que disseste "nunca vai acontecer", estavas a enganar-te. A enganar-me a mim, mas sobretudo a ti. Porque era o que querias e isso é inegável; aquilo que não conseguiste durante todo aquele tempo, foi abandonar a tua zona de conforto, de segurança. Aquilo que tinhas era válido, era amigável e não mais que isso, mas válido para algumas das tuas necessidades. Estou, por isso, também menos zangada contigo; porque para me enganares a mim, precisaste de te enganar a ti. Porque enganando-me a mim e a ti, privaste-te de mais de um ano e meio de felicidade e paixão. Se por um lado estou desfeita com tudo aquilo que foi acontecendo ao longo dos últimos dois meses, estou também feliz por ti, porque voltaste à vida depois de um enterro prolongado. Estou feliz por ter deixado de ser a terra a tapar a tua luz e desfeita por tê-la sido. E lembro-me, lembro-me bem demais, do fulgor e da intensidade dos primeiros tempos de paixão; mais ainda de uma paixão reprimida antes durante bastante tempo; como é agora a vossa e foi também a nossa. Não fomos uma mentira completa. Num tempo lá muito atrás, no tempo em que me olhavas com um brilho intenso nos olhos, no tempo em que me trazias flores, no tempo em que ouvias música dentro de ti quando me tocavas - porque houve esse tempo - não era mentira. Não fomos uma mentira completa, mas fomos uma mentira. E aquilo que mais lamento, do fundo do meu coração, é ter permitido que o tenhamos sido. Julho de 2012 deveria ter sido o último mês da nossa vida em comum; vida essa que foi muito para além dele e que, por isso, por ter ido além de um amor recíproco, destruiu grande parte do que ficou para trás, do que foi. Aquilo em que acredito é agora pouco, quase nada. Acredito no tal brilho e no encantamento inicial; em pouco mais. E há uma dor enorme - talvez a maior de todas - por acreditar que gostas genuinamente de mim; porque sim, sei que gostas genuinamente de mim, mas é um gostar daquela forma que, quando se ama, dói muito. Nunca vou sentir-me ser aquilo que te faz gostar de mim. Lamento muito, lamento profundamente, ter sido não o melhor, mas o pior; lamento mais do que sei dizer, ter-te prendido a mim pela competência enquanto amiga; lamento que o final de nós tenha trazido a certeza de que veio tarde; lamento ter-te roubado vida durante tanto tempo. Espero que aquilo que vives agora compense o tempo perdido, embora se saiba que o tempo não se recupera. Já não dói termos chegado ao fim; o que dói é termos chegado ao fim agora e não no tempo que lhe era devido. E não dói tanto assim saber que tens uma nova vida, porque essa vida te faz feliz; aquilo que dói é saber que essa era a vida que devias ter tido enquanto ainda estavas comigo. Não dói que tenha acabado; o que dói é perceber que acabou há tanto tempo atrás. Não dói que tenhas recomeçado; o que dói é saber que o recomeço era o que querias quando ainda te deitavas ao meu lado. Não dói saber que não me amas; o que dói é reconhecer finalmente que não me amavas há tanto tempo, que talvez nunca tenhas ido além do encantamento. Não dói saber que estás feliz; aquilo que dói é saber que foste tão infeliz comigo, pelo simples facto de estares comigo. Dizias muitas vezes que fui o melhor que te aconteceu na vida, que fui o melhor que tiveste na vida - disseste-o há bem pouco tempo; dói muito saber que não é verdade. O melhor que te aconteceu na vida foi teres tido a coragem de te libertar, o melhor que hás-de ter na vida é aquilo que a vida está a dar e há-de dar-te por teres tido essa coragem. Dizias também, disseste-o há tão poucos dias, que havias de amar-me para sempre; amor fraterno, sim, acredito. Eu costumava dizer também, disse-to há tão poucos dias, que havia de amar-te para sempre; por estar um bocadinho menos zangada contigo e comigo, espero, espero do fundo da alma - se a alma tiver fundo -, encontrar força que me permita refazer-me depois da morte de mim. Porque a morte de mim é a única forma de deixar de te amar. E embora doa todos os dias de uma forma incomensurável, acredito, acredito agora na vida depois da morte. Porque morri e estou viva, porque sei que tenho de morrer ainda, e sei que continuarei viva. Vou largar-me sem fronteiras e sem limites, vou ser pouco eu, nada eu;  ou tudo eu, um novo eu. Nasce agora uma nova identidade; não uma identidade sem memória, mas uma identidade de memória entorpecida. E hei-de matar todas, todas (!), até que nasça aquela que tenha deixado de te amar. Mesmo que seja a última, ou nenhuma, hei-de matar todas. 

domingo, 4 de maio de 2014

O passado, ficou onde pertence.

O passado, ficou onde pertence, no passado. E por mais que me gritem dores e desejos, jamais o trarei de volta ao presente; muito menos ao futuro. Quis ainda acreditar numa realidade que não existe, uma realidade menos dolorosa, uma realidade em que sofrias por não me ter tanto quanto sofro por não te ter a ti, uma realidade em que nada disto tivesse sido pensado, orquestrado. Jamais te perdoarei todos os "tu não me conheces, nunca vai acontecer", todos os "é a ti que eu amo", todos os "é contigo que quero ficar"; jamais te perdoarei todas as vezes em que, olhando-me nos olhos, me enganaste. Durante um ano e meio, vivi uma mentira profunda. E digo vivi, sim; vivi e não vivemos. Tu não viveste um mentira, tu soubeste sempre a verdade. Não tenho sequer coragem de aventar nenhum motivo para que tenhas ficado comigo durante esse tempo, todos eles se tornam demasiado penosos. Não quero sequer imaginar porque é que ficaste comigo durante todos aqueles mais de quinhentos dias em que aquilo que tinha sido já não era. Passaram menos de dois meses e tu constróis a tua vida ao lado de outra pessoa. No meu mundo, isso não acontece. No meu mundo, isso são irrealidades de cinema, quase ficção científica. Mas quando penso melhor...passaram, na verdade, menos de dois meses desde que te sentes, és e estás livre para essa pessoa, a mesma por quem lutaste durante tantos e tantos dias, meses. Jamais te perdoarei as palavras desta semana. No meu mundo, há palavras que, ditas em determinados contextos, como este, se tornam veneno; matam. Há milhares de coisas que jamais te perdoarei, mas a principal coisa que jamais te perdoarei é esta impossibilidade gigante de me perdoar a mim. Jamais me perdoarei. Porque eu podia ter evitado tudo isto. A única coisa que tinha de ter feito era ter-me ido embora. Lá atrás, naquele primeiro tempo; ou no segundo, porque no primeiro achamos sempre que devemos tentar; ou no terceiro, porque no segundo achamos sempre que podemos ter mais uma oportunidade; ou no quarto, porque achamos sempre que não há duas sem três; mas eu podia, podia ter-me vindo embora. Tu serias feliz há mais tempo, e eu, hoje, talvez fosse já qualquer coisa. A mentira que me permiti viver, roubou-me tudo o que um dia fui; a desilusão condiciona-me o resto da vida. Não voltarei a ser eu; um eu agora clivado, desfragmentado, estilhaçado e espalhado por aí; um eu impossível de colar, impossível de reabilitar. Espero que sejas feliz. Do fundo do coração. Tens uma felicidade em atraso para viver; uma felicidade que é tua agora mas que está atrasada, por minha causa. Todos nós temos dias. Apaixonados ou não, com a pessoa que amamos ou não, todos nós temos dias; mas é também para isso que servem as relações, para nos dar suporte nos dias em que temos dias. As ausências de resposta, são respostas mais poderosas que muitas palavras. Há apenas um contexto em que me manterei racional e cordial; em nenhum outro acontecerá. E acontecerá neste contexto durante um espaço de tempo que creio curto, uma vez que tens direito à tua vida e aos teus sorrisos sem culpa, sem pancadinhas nas costas; para além do direito que tens de partilhar todos os momentos, situações e circunstâncias da tua vida, quando e como queiras. Não surgirei ou me manifestarei em qualquer outra circunstância. Se tiver de correr mal, não há-de ser por interferência minha; nunca. Espero que não corra; espero que corra bem e que valha muito a pena. E embora me sinta desfeita, espero-o mesmo; porque a tua felicidade, ainda me importa. E, infelizmente, ainda me importa acima da minha. Faz-me um favor: pensa nas palavras sempre que quiseres usá-las. Comigo, com ela, com qualquer pessoa. As palavras têm alma, têm cor, tem significado. Não voltes a usar palavras comigo. Nunca mais. A alma, a cor, o som e a falta de significado das tuas palavras fazem com que tenha a certeza de que jamais acreditarei de novo no amor. Eu vou sobreviver, sim. Seria demasiado egoísmo não sobreviver; há pessoas que não usam palavras mas que me prendem à viva. E há outras que usam palavras com significado, vestidas, cheias e que também me prendem à vida; não serei egoísta e sobreviverei. Por elas. Só por elas. Viver, quem sabe se voltarei a viver?...Não será amanhã a véspera; sim, é aquilo das vésperas. Nunca vou perdoar-te; mas também nunca vou esquecer-te. E isso queima-me por dentro. Não voltes a dizer que me amas. Nunca mais. Tu não me amas. Há muito muito tempo. Estou agora em fase de tentativa de me convencer de que nalgum momento da vida hás-de ter amado. Hoje não é o dia em que sais para sempre da minha vida; é o dia em que saio para sempre da tua vida. O passado, ficou onde pertence, no passado. E por mais que me gritem dores e desejos, jamais o trarei de volta ao presente; muito menos ao futuro. Tem uma boa vida, que o presente te complete e o futuro te sorria. 

terça-feira, 29 de abril de 2014

29 sem filtro.


Hoje tenho mais vontade de correr para os teus braços do que em todos os 45 dias anteriores. [45 dias] E estou desgovernada, sem filtro e muito descompensada. Hoje mal consigo escrever, dói demasiado. Choro desenfreadamente e as lágrimas desfocam tudo. Todos os meses haverá este dia. Todos os anos todos os meses terão este dia. Todas as décadas todos os anos terão este dia em todos os meses. Dava o resto dos dias, dos meses, dos anos, por cinco minutos num abraço teu. Hoje a falta que me fazes é mais do que consigo suportar; e eu bem disse, bem disse que não queria o sol dos dias em que não te tenho. Quero fechar os olhos. Fechar os olhos e adormecer durante muito tempo; tanto tempo que me permita ter-me esquecido ao acordar. Terei de dormir a eternidade? Estou a escrever sem filtro. Sem parar. Sem pausas para pensar, para respirar. Há uma semana atrás sentia uma raiva enorme de ti; uma raiva que, de certa forma, me alimentava; uma raiva que me ofereceu o silêncio e que, de algum modo, apaziguou a inquietação do amor desamado. Já não sinto raiva. Aquilo de que antes sentia raiva, agora só me magoa; já não me zanga, já não me zango. Magoa-me o que já não é meu e é de alguém; mas já não sinto raiva. The Gift. Já não é meu e é de alguém. Quero sentir raiva. Esforço-me por senti-la. Como é que podes partilhar o que é tão nosso? Mas não sinto; esforço-me mas não sinto. Se sentisse, podia perdê-los. Não quero perdê-los. Nem ao que significam. Não quero perder-te; perder-te dentro de mim, perder-te dentro deles. Preciso dessa noite; preciso de ir gritar a banda sonora de mim, a banda sonora de nós. A importância dos The Gift numa história de amor. Um dia destes vou fazer um Post com o título A Importância dos The Gift numa História de Amor. Sem filtro, desgovernada. Sinto-me um comboio em excesso de velocidade que a qualquer momento vai descarrilar; não é pode, é vai. 1h30 para o dia acabar, depois virá a ressaca. A ressaca já conheço, com a ressaca posso bem. Há sempre uma ressaca para cada excesso! Será um excesso este amor que te tenho? Não o sinto como um excesso, preenche cada pedaço de mim e não há parte nenhuma dele que me agrida pela imensidão. O excesso é a falta que me fazes. Fazes-me falta em excesso; fazes-me falta até à ressaca. Hoje a falta que me fazes é mais do que consigo suportar. Faz-me falta o passeio do 29, o parabéns do 29, o "let's stay together for always" do 29, o sushi do 29, as tardes na cama do 29; faz-me falta o 29 anterior e o próximo também. Dói-me antecipadamente o próximo 29. Faz-me falta a tua pele, o teu cheiro no meu corpo, na minha roupa. Bambi, doce, meu anjo, meu amor. Faz-me falta. Tanto muito, tantum, beijos dos nossos. As flores trazidas daqui e dali, os powerpoints, os olhos a brilhar que não podiam, não queriam enganar. Foi há tanto tempo! Faz-me falta, caramba! Sesimbra, Costa da Caparica, férias planeadas. Faz-me falta.  O sofá grande preto da sala, a varanda enorme com a mesinha e os banquinhos, o quarto com a cama gigante, passear os cães, jantar feito a quatro mãos. Sonhos. Só sonhos. "As lágrimas que choro não são penas, são só sonhos." As lágrimas que choro já não podem ser sonhos, são penas, penas que voam para longe. Tira-me a falta que me faz ou dá-me tudo outra vez.      

domingo, 27 de abril de 2014

Não consigo, não sei.


Tenho tantas coisas para dizer. Ainda. Mas hoje vou ser desconexa e fazer pouco sentido. Não importa, cá dentro as coisas não fazem sentido; posso não fazer sentido, posso dar-me isso, no meio de tanta coisa que não posso dar-me. 

Não consigo lidar com o facto de estares a desaparecer da minha lista de contactos principais no Facebook. Costumavas ser o primeiro nome; agora, estás a um de ser o último. Minto; olhei outra vez, és o último nome da lista, aquele que vem imediatamente antes de "Mais amigos". Olhar para lá, deixa-me exasperada; quanto simbolismo, quanta metáfora, quanto id! 

Não consigo parar de me apaixonar por ti. Todos os dias. Por motivo nenhum e por todos os motivos do mundo. Por qualquer coisa que faças ou por nada que faças. Por tudo ou nada que digas. Pelos movimentos, pelas ausências de movimento, pelas inspirações e expirações, sei lá. Por existires, não sei. Talvez baste isso, talvez seja só isso. 

Não consigo não ter saudades astronómicas que me atrofiam os músculos e me quebram por dentro. Às vezes penso "saudades" e falta-me o ar; é como se deixasse de funcionar, como se houvesse uma falha nas engrenagens e tudo se desmontasse, saltassem peças por todo o lado e fosse impossível por o motor a trabalhar. 

Não consigo largar esta vontade esmagadora de te abraçar; às vezes, vejo dentro da minha cabeça uma imagem difusa em que, em qualquer sítio, onde quer que estejas, que eu esteja, que estejamos, esqueço-me de tudo e simplesmente...abraço-te. 
Não consigo não pensar em ti. Não consigo estar um segundo sem pensar em ti. E isto é literal, não hiperbólico. Não sais de dentro de mim, é angustiante, é desesperante. 

Não consigo ver de que forma possa o tempo amenizar o que sinto. Racionalmente, sei - obrigo-me a saber - que há-de passar; mas emocionalmente, não consigo acreditar, não consigo ver forma nenhuma disso poder acontecer. Parece demasiado impossível. 

Não consigo deixar de pensar que, há medida que o tempo passa e o meu desespero, a minha dor, a minha  saudade e vontade insaciável de ti aumentam, para ti, é cada vez mais fácil. Não consigo deixar de pensar que enquanto eu travo uma luta diária para sobreviver à tua ausência, tu aprendes a viver sem mim. Não consigo deixar de pensar que quanto mais sinto a tua falta, menos sentes a minha. Não consigo deixar de pensar que, enquanto respiro cada vez com mais dificuldade, o hábito e - talvez - o alívio da minha ausência te tornam mais leve, mais feliz. Não consigo deixar de pensar que és mais feliz desde que não nos temos. Pode estar errado, pode estar tudo errado, mas eu não consigo deixar de o pensar; e, às vezes, não consigo deixar de o sentir.

Não consigo evitar esperar um milagre. Não sei que milagre, não faço ideia; mas não consigo evitar esperar um. Não consigo evitar esperar, todos os dias, um sinal de ti. Um sinal de que estás aí, um sinal de que ainda pensas em mim. Não consigo evitar esperar que cada mensagem que recebo seja tua. Não consigo evitar, mais que esperar, desejar que o seja. Não consigo evitar desejar que queiras saber de mim, que não me tenhas esquecido assim tão facilmente, que não seja assim tão fácil viver sem mim, que te preocupes, que te importes. Sim, eu sei, tudo isto é um enorme contrasenso com o "ponto" anterior. Eu disse que seria desconexa e faria pouco sentido. Cá dentro, nada faz sentido. A não ser amar-te.

Não consigo fazer com que amar-te não tenha sentido. Não consigo fazer com que amar-te se perca na banalidade dos dias, dos momentos, dos sentidos. Não consigo fazer com que amar-te se torne supérfluo, para poder depois deitar fora. Não consigo deixar de te amar com todas as forças que tenho, com tudo aquilo que sou. Talvez o estar mais perto disso sejam a pouca força que tenho, o pouco que me sinto.

Tenho tantas coisas para dizer. Ainda. Não sei por quanto tempo mais terei coisas a dizer; não sei quanto tempo levarei a secar. Não sei para onde mais me voltar, por que mais me voltar, porque mais me voltar. Não sei se quero vencer esta luta. Não sei se quero uma alegria hipotética para os dias em que não te tenho. Não sei se quero os sucessos de conquistas impartilháveis. Não sei se quero o sol dos dias em que me faltas. Fazes-me Falta.


sábado, 26 de abril de 2014

"Quebra-gelo".

Não vale a pena pedirem-me que explique, que eu não saberei como; a partir daqui, as considerações são as que entenderem. Hoje, de alguma forma, foi como se estivéssemos a conhecer-nos de novo; como se nunca nos tivéssemos visto ou encontrado e estivéssemos a descobrir-nos pela primeira vez. Eu disse que não saberia explicar, não vale a pena haver perguntas. Foi como se estivéssemos numa espécie de quebra-gelo. Quem és tu, de que é que gostas, o que é que queres e/ou esperas da vida. Não, as perguntas não foram feitas, mas parecia. Piadas e brincadeiras de um quebra-gelo inicial. E lá estavas tu, e lá estava o sorriso, e lá estava o olhar, e lá estavam os jeitos e trejeitos. Respondendo ao talvez de ontem, o amor não tem nada de terreno, de terreste; o amor é etéreo, ponto final. Se esta fosse outra vida, se eu fosse outra, se tu não fosses também a mesma pessoa, se tivéssemos transposto a realidade para uma outra dimensão, cá estaria eu (um outro eu) - de novo - a apaixonar-me por ti. E isto irrita-me por várias razões. Assim à superfície encontro três. A primeira e menos óbvia mas mais irritável, prende-se com o facto de não conseguir deixar de desejar, mais que tudo, que esta tivesse sido também uma descoberta tua; no fundo, que hoje tivesses também descoberto que podes sempre voltar a apaixonar-te por mim; como quase morro de certeza de que isto não aconteceu, fico irritada. A segunda, mais óbvia e menos irritável, prende-se com o facto de não ser suposto por-me para aqui, para aí, para ali, a (re)descobrir os teus encantos e as razões pelas quais me apaixonei e voltaria sempre a apaixonar por ti, mas o contrário; o suposto nesta fase sem fim da vida - da minha -, seria procurar motivos, razões, fortes justificações para me desapaixonar de ti. Desde quando é que no amor há "o suposto"? A terceira, óbvia e desesperante, prende-se tão só com a impossibilidade que representam simultaneamente o seres e o deixares de ser. Seja hoje, amanhã, daqui por uma semana, daqui por um mês, no próximo ano ou no próximo século, sempre que te (re)descobrir vou (re)apaixonar-me. E isto podia ser a coisa mais bonita do mundo, e até é, de certa forma; mas agora, no momento presente é, sobretudo, um poço infinito onde, por mais que procure, não encontro a cama elástica. E isto irrita-me por várias razões. Já agora: a palavra "irrita-me" poderá estar extremamente mal aplicada, mas como não faço a mínima ideia do nome que hei-de dar ao que isto me faz sentir, escolhi "irrita-me". Porque sim. Mais uma coisa: a irritação, ou o quer que isto seja, é comigo. E não vale a pena pedirem-me que explique, que eu não saberei como; dito isto, as considerações são as que entenderem. 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim.

Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que não me encontrei. E não me encontrando, não te encontrei. Talvez seja essa a chave mágica que procuro, perder-me de mim; talvez perder-me de mim seja a única forma de perder-me de ti. Talvez desencontrar-me de mim seja a única forma de deixar de te encontrar dentro de mim. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que passaste por mim e mal te vi; não fosse ter ficado o teu cheiro no ar, não te teria visto. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que me perguntei o dia inteiro porque sorria. Porque sorria? Estive feliz? Não. Estive ausente. Ausente de mim, ausente de ti. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que a dor que me assalta todas as noites quando me lembro que não vens para os meus braços, veio atrasada, encontrou-me já deitada. Ela vem, vem sempre, mas hoje chegou mais tarde. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que atrasei a dor. Talvez seja essa a chave mágica de que preciso, fechar-me; fechar-me de mim. Talvez não possa desistir de ti sem antes desistir de mim; porque desistir de mim é desistir desta forma completa de te amar. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que, por breves instantes, me esqueci; não de ti, de mim. Vives em cada gota do meu sangue, em cada poro da minha pele, em cada partícula de ar que inspiro, expiro; não posso esquecer-me de ti sem esquecer-me de mim. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que percebi. É de mim que quero largar-me. E talvez, só talvez, largando-me de mim possa largar-me de ti; talvez, só talvez, não vivas para lá da minha essência; talvez, só talvez, não transcendas o palpável. E talvez, só talvez, este amor não viva para lá de uma total clivagem de mim. Hipoteticamente falando, talvez, só talvez, o amor seja terreno e não etéreo. Se eu acredito? Não. Se tenho hipótese? Também não. Hoje, fechei-me tão fundo dentro de mim que me larguei de mim. O futuro me dirá se chega.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Às vezes, imagino.

Às vezes, quando um carro passa à minha porta e - por breves instantes e variadas razões - fica parado, imagino que és tu. Durante esses instantes que são breves e se tornam eternos, imagino centenas de cenários; uns possíveis, outros nem tanto. Nenhum provável. Às vezes, claro, imagino que vens dizer que me amas e que não queres e não podes viver sem mim; que sou tudo: ar, água, terra, fogo, tudo. Outras vezes, imagino que vens despedir-te de mim; chegas, pedes que vá lá abaixo e entre no carro e, quando estou sentada ao teu lado, inclinas-te para mim e beijas-me pela última vez, pedindo-me que o recorde. Às vezes, claro, imagino que vens, de novo, pedir-me que seja tua; não teria resposta para te dar: sou tua, hei-de ser sempre tua.; qual é a dúvida? Outras vezes, imagino que queres apenas ver-me; pedes-me que desça, olhas para mim, dizes qualquer coisa sobre saudades, abraças-me e vais embora. Às vezes, claro, imagino que vens fazer uma declaração ao estilo The Notebook: “So, it's not gonna be easy. It's gonna be really hard. We're gonna have to work at this every day, but I want to do that because I want you. I want all of you, forever, you and me, every day." Outras vezes, imagino que estavas a ter um dia difícil e que quiseste apenas passar por cá para falar um bocadinho comigo, para sentir um bocadinho o conforto da minha presença. Sei lá se a minha presença é um conforto, estou apenas a montar cenários. Às vezes, claro, imagino que vens matar esta sombra que teima em crescer dentro de mim, que vens dizer-me que não passou tudo de um pesadelo, que está tudo bem. Outras vezes, imagino que vens dar-me qualquer coisa minha que andasse esquecida por tua casa; como pretexto, naturalmente. Às vezes, claro, imagino que vens pedir-me em casamento, aquele pedido que fizeste tantas vezes e que dizias um dia ir transformar-se "num pedido como deve ser"; talvez nunca to tenha dito, mas de todas as vezes em que me olhaste nos olhos e me disseste "casa comigo, fica comigo para sempre", recebi-o como "um pedido como deve ser". [Recebi-o como "um pedido como deve ser" um dia antes dos dias terem acabado, sentada no sofá da sala, onde agora não consigo sentar-me sem que as lágrimas me procurem.] Outras vezes, imagino que vens e não dizes nada; ficas a olhar para mim e os teus olhos dizem tudo e os meus olhos respondem tudo. Aqui, no silêncio gritante do meu quarto, nas paredes carregadas de memórias que me envolvem, no espelho gigante que te reflecte sem cá estares, na cama onde ainda encontro o teu cheiro, fico parada a ouvir os carros passar e a imaginar-te chegar. Aqui, rodeada pelas almofadas que tantas vezes jogámos ao chão, fico parada a ouvir os carros passar e a imaginar-te chegar, enquanto, pelo rosto, deslizam lágrimas que sussurram "adeus, meu amor".