A saudade define a certeza.

A saudade define a certeza.

domingo, 4 de maio de 2014

O passado, ficou onde pertence.

O passado, ficou onde pertence, no passado. E por mais que me gritem dores e desejos, jamais o trarei de volta ao presente; muito menos ao futuro. Quis ainda acreditar numa realidade que não existe, uma realidade menos dolorosa, uma realidade em que sofrias por não me ter tanto quanto sofro por não te ter a ti, uma realidade em que nada disto tivesse sido pensado, orquestrado. Jamais te perdoarei todos os "tu não me conheces, nunca vai acontecer", todos os "é a ti que eu amo", todos os "é contigo que quero ficar"; jamais te perdoarei todas as vezes em que, olhando-me nos olhos, me enganaste. Durante um ano e meio, vivi uma mentira profunda. E digo vivi, sim; vivi e não vivemos. Tu não viveste um mentira, tu soubeste sempre a verdade. Não tenho sequer coragem de aventar nenhum motivo para que tenhas ficado comigo durante esse tempo, todos eles se tornam demasiado penosos. Não quero sequer imaginar porque é que ficaste comigo durante todos aqueles mais de quinhentos dias em que aquilo que tinha sido já não era. Passaram menos de dois meses e tu constróis a tua vida ao lado de outra pessoa. No meu mundo, isso não acontece. No meu mundo, isso são irrealidades de cinema, quase ficção científica. Mas quando penso melhor...passaram, na verdade, menos de dois meses desde que te sentes, és e estás livre para essa pessoa, a mesma por quem lutaste durante tantos e tantos dias, meses. Jamais te perdoarei as palavras desta semana. No meu mundo, há palavras que, ditas em determinados contextos, como este, se tornam veneno; matam. Há milhares de coisas que jamais te perdoarei, mas a principal coisa que jamais te perdoarei é esta impossibilidade gigante de me perdoar a mim. Jamais me perdoarei. Porque eu podia ter evitado tudo isto. A única coisa que tinha de ter feito era ter-me ido embora. Lá atrás, naquele primeiro tempo; ou no segundo, porque no primeiro achamos sempre que devemos tentar; ou no terceiro, porque no segundo achamos sempre que podemos ter mais uma oportunidade; ou no quarto, porque achamos sempre que não há duas sem três; mas eu podia, podia ter-me vindo embora. Tu serias feliz há mais tempo, e eu, hoje, talvez fosse já qualquer coisa. A mentira que me permiti viver, roubou-me tudo o que um dia fui; a desilusão condiciona-me o resto da vida. Não voltarei a ser eu; um eu agora clivado, desfragmentado, estilhaçado e espalhado por aí; um eu impossível de colar, impossível de reabilitar. Espero que sejas feliz. Do fundo do coração. Tens uma felicidade em atraso para viver; uma felicidade que é tua agora mas que está atrasada, por minha causa. Todos nós temos dias. Apaixonados ou não, com a pessoa que amamos ou não, todos nós temos dias; mas é também para isso que servem as relações, para nos dar suporte nos dias em que temos dias. As ausências de resposta, são respostas mais poderosas que muitas palavras. Há apenas um contexto em que me manterei racional e cordial; em nenhum outro acontecerá. E acontecerá neste contexto durante um espaço de tempo que creio curto, uma vez que tens direito à tua vida e aos teus sorrisos sem culpa, sem pancadinhas nas costas; para além do direito que tens de partilhar todos os momentos, situações e circunstâncias da tua vida, quando e como queiras. Não surgirei ou me manifestarei em qualquer outra circunstância. Se tiver de correr mal, não há-de ser por interferência minha; nunca. Espero que não corra; espero que corra bem e que valha muito a pena. E embora me sinta desfeita, espero-o mesmo; porque a tua felicidade, ainda me importa. E, infelizmente, ainda me importa acima da minha. Faz-me um favor: pensa nas palavras sempre que quiseres usá-las. Comigo, com ela, com qualquer pessoa. As palavras têm alma, têm cor, tem significado. Não voltes a usar palavras comigo. Nunca mais. A alma, a cor, o som e a falta de significado das tuas palavras fazem com que tenha a certeza de que jamais acreditarei de novo no amor. Eu vou sobreviver, sim. Seria demasiado egoísmo não sobreviver; há pessoas que não usam palavras mas que me prendem à viva. E há outras que usam palavras com significado, vestidas, cheias e que também me prendem à vida; não serei egoísta e sobreviverei. Por elas. Só por elas. Viver, quem sabe se voltarei a viver?...Não será amanhã a véspera; sim, é aquilo das vésperas. Nunca vou perdoar-te; mas também nunca vou esquecer-te. E isso queima-me por dentro. Não voltes a dizer que me amas. Nunca mais. Tu não me amas. Há muito muito tempo. Estou agora em fase de tentativa de me convencer de que nalgum momento da vida hás-de ter amado. Hoje não é o dia em que sais para sempre da minha vida; é o dia em que saio para sempre da tua vida. O passado, ficou onde pertence, no passado. E por mais que me gritem dores e desejos, jamais o trarei de volta ao presente; muito menos ao futuro. Tem uma boa vida, que o presente te complete e o futuro te sorria. 

Sem comentários:

Enviar um comentário